Com a queda de juros, seguradoras terão de mudar a estratégia
para manter rentabilidade. O desempenho das seguradoras em 2003
não foi satisfatório. Esse é o consenso de analistas e consultores
entrevistados, que avaliaram os balanços financeiros das companhias,
divulgados durante o mês de fevereiro. No entanto, quem olha
a coluna do lucro supreende-se com tal afirmação. Nove, entre
as dez maiores, registraram ganho no ano passado superior ao
de 2002. "O ganho em 2003 veio do resultado financeiro. Se as
taxas de juros voltarem a seguir a tendência de queda, as seguradoras
que não se adequarem terão problemas de rentabilidade em 2004",
alertou José Rubens Alonso, sócio da consultoria KPMG.
Ou seja: o ganho das companhias veio do resultado financeiro,
que compensou as perdas com a operação de seguro. Com a tendência
de queda de juros em 2004, as companhias terão de rever estratégias
para lucrar com a venda de seguro se não quiserem comprometer
a rentabilidade. A fórmula do lucro das seguradoras, a grosso
modo, é calculada com base na taxa do mercado financeiro: quanto
maior a taxa, mais barato o seguro e vice-versa.
Segundo Paulo Botti, sócio consultor da G5 Solutions, o índice
combinado é o mais indicado para avaliar o desempenho das seguradoras,
pois tal índice só deve considerar as operações de seguros,
excluindo-se capitalização e previdência. Em razão de divergências
sobre o cálculo desse índice pelos executivos das maiores seguradoras,
este jornal solicitou à Itaú Seguros a elaboração de um índice
com a mesma fórmula, com base nos dados do balanço financeiro
divulgado pela controladora de cada seguradora. para poder mostrar
um índice com a mesma base de cálculo. O índice, neste caso,
resultou da somatória do sinistro retido, das despesas comercial
e administrativa, dos tributos e de outras despesas e receitas
operacio-nais, cujo resultado é dividido pelo prêmio ganho.
Com base nisso, apenas duas companhias entre as dez maiores
registraram índice inferior a 100%: a Caixa Seguros, que não
opera em saúde e automóvel, onde o índice de sinistralidade
é alto, e HSBC Seguros. Se for considerada a receita financeira
para calcular o índice combinado ampliado, os consultores fazem
uma ressalva: "É preciso separar o que é dinheiro da operação
de seguros e o que é dinheiro do acionista", disse Botti. Nesse
quesito, as grandes seguradoras são favorecidas, pois têm faturamento
e patrimônio elevados, prejudicando a comparação de eficiência.
Por isso, Botti faz um cálculo simples para avaliar o desem-penho
das companhias com seguro. Ele calcula o valor que as seguradoras
têm para investir, considerando a reserva técnica, formado pelos
prêmios dos segurados. Teoricamente, as reservas representam
cerca de 50% do prêmio anual. "Se a companhia investir a uma
taxa de juros de 15%, terá um retorno de 7,5% do prêmio do ano
sobre as reservas. Isso quer dizer que, se a companhia chegou
a um índice combinado de 107,5%, empatou com o ganho da operação.
Se passou, vai usar o retorno financeiro obtido pela aplicação
do dinheiro do patrimônio, ou seja, do acionista, para compensar
as perdas com a venda de seguro.
"Mas há distorções nos diversos índices que compõem o índice
combinado, seja em razão da falta de padronização dos dados
ou mesmo por equívocos causados pela legislação", comentou Luiz
Roberto Castiglione, da consultoria Castiglione Business. O
advogado e consultor, especializado em seguros, Antonio Penteado
Mendonça é incisivo: "Não acredite na última linha do balanço
porque a seguradora tem como camuflar o resultado de forma fácil
e de forma legal, o que é mais importante. Se quer saber se
uma seguradora dá lucro, olhe o quanto ela paga de imposto de
renda".
No caso da Bradesco, o índice permite distorções em razão do
VGBL, um produto de acumulação de renda, similar a um fundo
de investimento, mas que é computado nas estatísticas de seguro
de vida. Só em VGBL a Bradesco registrou R$ 3,48 bilhões em
prêmios. Qualquer resgate feito no produto é considerado um
sinistro. A Superintendência de Seguros Privados (Susep) está
revendo essa metologia e deverá, em breve, separar o VGBL das
demais modalidades de seguro.
O custo da assistência 24 horas também gera confusão. As que
têm frota própria consideram os custos em despesas administrativas.
As que tercerizam o atendimento consideram em sinistros. A Susep
entende que o valor pode também ser considerado em outras despesas
e receitas, pois se a ocorrência resultou apenas numa troca
de pneu não é um sinistro.