A
Gestão do Conhecimento e os Atuais Desafios
Gerenciais
Fábio
Câmara Araújo de Carvalho (*)
Nos
últimos anos, o termo "Gestão do
Conhecimento" tem sido amplamente difundido nas
mídias, pelas empresas de consultoria, por
algumas empresas de software, profissionais e instituições
de ensino superior.
Há muitos conceitos
diferentes sobre o termo e alguns profissionais afirmam
que é mais um modismo gerencial como tantos
outros que existiram nas últimas décadas
e que acabaram por passar depois de algum tempo.
Precisamos destacar alguns
dos atuais desafios gerenciais mais importantes: aumentar
a fidelidade do cliente, aumentar a rentabilidade
por cliente, o aumento da oferta de produtos e serviços,
nivelamento tecnológico e da qualidade de produtos
e serviços e conseqüente aumento do poder
de escolha do cliente.
Na batalha para vencer estes
e outros desafios, algumas empresas se destacam por
criar, compartilhar, disseminar, recuperar e reter
conhecimento das pessoas, sabendo que o conhecimento
se traduz na prática em novos produtos e serviços,
e inovações de mercado para se manter
competitiva ou estar à frente de seus concorrentes.
Ainda neste sentido, inúmeras
empresas compram ferramentas de Tecnologia de Informação
e Comunicação (TIC) a partir da promessa
da integração, colaboração,
organização do trabalho, porém
não vêm tendo o retorno esperado pela
má implementação ou pela sub-utilização
da TIC.
Algumas empresas ainda gastam
mais recursos contratando empresas de consultoria
para diagnosticar e saber como faz para que as pessoas
utilizem, de forma eficiente e eficaz, a TIC.
Entendemos Gestão do
Conhecimento (GC) como um conjunto de agentes gestores
de todo o conhecimento individual e organizacional.
Seja expressa pela cultura, seja pela área
de sistemas, de recursos humanos, seja pela área
de estruturas e processos, seja pela inovação,
gerenciamento de resultados, enfim, engloba toda a
empresa envolvida no cenário no qual predomina
informação e conhecimento.
No momento em que se organiza
uma base de informação, melhora um processo
ou um produto, descobre uma necessidade, desenvolve-se
uma competência, analisam-se cenários
e mudanças no mercado, está-se gerando
conhecimento.
Gestão do conhecimento
passa por um conjunto de processos para organizar
todo este contexto organizacional e fazer com que
a criação de conhecimento seja um processo
dinâmico, contínuo, gerando inovação
de processos e produtos e resultados de mercado.
Assim, passando por um processo
de mudança e utilizando esta nova filosofia
de gestão, pode-se organizar e gerar diferencial
competitivo para as empresas.
Na prática podemos
entender que a empresa pode iniciar um processo
de convergência para a Gestão do
Conhecimento desenvolvendo a partir de um dos três
pilares:
Gestão da Informação
Gestão de Processos
Gestão de Pessoas/Competências
Entende-se que a cultura e
a estrutura são associadas às organizações
como agentes que interferem diretamente nos processos
e nas pessoas, influenciando o desempenho global da
empresa.
Os três pilares citados,
embora contenham componentes heterogêneos -
dependendo da organização, sem ligação
- em determinado momento necessitam ter uma estrutura
sintonizada para o mercado em que atuam.
Portanto, a alta administração
da empresa que quiser escolher um modelo de gestão
do conhecimento, poderá partir de uma das três
formas acima citadas.
Se preferir iniciar pela gestão
da informação, será objetivado
a melhoria, ou o desenvolvimento, de uma base de conhecimento
em que será preciso inserir todo o conhecimento
das pessoas e dos procedimentos empresariais na mesma.
Neste sentido, processos pessoas terão fundamental
importância para que a base tenha robustez e
identidade organizacional.
Se preferir iniciar pela gestão
de processos, será objetivada a melhoria no
sistema de custos, tempo, fluxos, eficiência
e eficácia nos processos da organização.
Se cada passo do processo explicitado em informação
não for catalogado e validado pelas pessoas,
as condições para a melhoria poderão
ser comprometidas.
Se preferir iniciar pela gestão
de pessoas/competências, será objetivado
o desenvolvimento de recursos humanos para habilidades
gerenciais e específicas de acordo com a função
a qual o indivíduo deverá assumir. A
base de conhecimento e o conhecimento dos processos
empresariais serão de suma importância
para que tais indivíduos possam melhorar o
desempenho global da empresa, seja através
da melhoria ou inovação de produtos/processos.
A convergência destes
focos resulta num modelo de gestão no qual
o conhecimento é o principal elemento. No ambiente
complexo em que as empresas se encontram, a gestão
do conhecimento passa a ter um alto grau de subjetividade.
Associá-la simplesmente
à gestão de informação,
ou de pessoas, ou de processos é reduzir o
foco, limitar sua abrangência.
É possível facilitar
a criação, compartilhar, disseminar,
recuperar e reter conhecimento das pessoas. Podemos
começar a partir de uma mudança de foco.
Muito se fala em desenvolver o mercado nacional e
novos mercados internacionais. Por que não
deixarmos de pensar em competição e
pensar em "coopetição", em
que a colaboração é fundamental?
Um segundo passo é
ter consciência que ferramentas de TIC, processos
e pessoas devem convergir para que os resultados de
mercado possam ser alcançados e as empresas
e as pessoas aprendam, cresçam e se desenvolvam
continuamente.
O conhecimento sempre esteve
presente no cotidiano das empresas, porém disperso,
não organizado, não estruturado e predominantemente
sob o domínio das pessoas.
Trabalhar as pessoas e as
informações, conhecimento - tanto na
esfera individual, quanto na organizacional - é
um desafio para criar, desenvolver e sustentar vantagem
nos mercados.
Definir os agentes que farão
parte da condução do processo de mudança
para a gestão do conhecimento deve ser um primeiro
passo para desenvolver uma nova abordagem em gestão
empresarial em resposta ao aumento da complexidade
dos mercados e dos negócios atuais.
(*)
Fábio Câmara Araújo de Carvalho
é sócio diretor da IBCon -
Inteligência em Negócios - professor
da ESPM e Uni Sant´Anna
em São Paulo e sócio fundador da Sociedade
Brasileira de
Gestão do Conhecimento (SBGC).