Ano I - N° 5
Brasil, junho de 2003. 

A Gestão do Conhecimento e os Atuais Desafios Gerenciais

Fábio Câmara Araújo de Carvalho (*)

    Nos últimos anos, o termo "Gestão do Conhecimento" tem sido amplamente difundido nas mídias, pelas empresas de consultoria, por algumas empresas de software, profissionais e instituições de ensino superior.
    Há muitos conceitos diferentes sobre o termo e alguns profissionais afirmam que é mais um modismo gerencial como tantos outros que existiram nas últimas décadas e que acabaram por passar depois de algum tempo.
    Precisamos destacar alguns dos atuais desafios gerenciais mais importantes: aumentar a fidelidade do cliente, aumentar a rentabilidade por cliente, o aumento da oferta de produtos e serviços, nivelamento tecnológico e da qualidade de produtos e serviços e conseqüente aumento do poder de escolha do cliente.
    Na batalha para vencer estes e outros desafios, algumas empresas se destacam por criar, compartilhar, disseminar, recuperar e reter conhecimento das pessoas, sabendo que o conhecimento se traduz na prática em novos produtos e serviços, e inovações de mercado para se manter competitiva ou estar à frente de seus concorrentes.
    Ainda neste sentido, inúmeras empresas compram ferramentas de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) a partir da promessa da integração, colaboração, organização do trabalho, porém não vêm tendo o retorno esperado pela má implementação ou pela sub-utilização da TIC.
    Algumas empresas ainda gastam mais recursos contratando empresas de consultoria para diagnosticar e saber como faz para que as pessoas utilizem, de forma eficiente e eficaz, a TIC.
    Entendemos Gestão do Conhecimento (GC) como um conjunto de agentes gestores de todo o conhecimento individual e organizacional. Seja expressa pela cultura, seja pela área de sistemas, de recursos humanos, seja pela área de estruturas e processos, seja pela inovação, gerenciamento de resultados, enfim, engloba toda a empresa envolvida no cenário no qual predomina informação e conhecimento.
    No momento em que se organiza uma base de informação, melhora um processo ou um produto, descobre uma necessidade, desenvolve-se uma competência, analisam-se cenários e mudanças no mercado, está-se gerando conhecimento.
    Gestão do conhecimento passa por um conjunto de processos para organizar todo este contexto organizacional e fazer com que a criação de conhecimento seja um processo dinâmico, contínuo, gerando inovação de processos e produtos e resultados de mercado.
    Assim, passando por um processo de mudança e utilizando esta nova filosofia de gestão, pode-se organizar e gerar diferencial competitivo para as empresas.
    Na prática podemos entender que a empresa pode iniciar um processo de convergência para a Gestão do Conhecimento desenvolvendo a partir de um dos três pilares:
    • Gestão da Informação
    • Gestão de Processos
    • Gestão de Pessoas/Competências
    Entende-se que a cultura e a estrutura são associadas às organizações como agentes que interferem diretamente nos processos e nas pessoas, influenciando o desempenho global da empresa.
    Os três pilares citados, embora contenham componentes heterogêneos - dependendo da organização, sem ligação - em determinado momento necessitam ter uma estrutura sintonizada para o mercado em que atuam.
    Portanto, a alta administração da empresa que quiser escolher um modelo de gestão do conhecimento, poderá partir de uma das três formas acima citadas.
    Se preferir iniciar pela gestão da informação, será objetivado a melhoria, ou o desenvolvimento, de uma base de conhecimento em que será preciso inserir todo o conhecimento das pessoas e dos procedimentos empresariais na mesma. Neste sentido, processos pessoas terão fundamental importância para que a base tenha robustez e identidade organizacional.
    Se preferir iniciar pela gestão de processos, será objetivada a melhoria no sistema de custos, tempo, fluxos, eficiência e eficácia nos processos da organização. Se cada passo do processo explicitado em informação não for catalogado e validado pelas pessoas, as condições para a melhoria poderão ser comprometidas.
    Se preferir iniciar pela gestão de pessoas/competências, será objetivado o desenvolvimento de recursos humanos para habilidades gerenciais e específicas de acordo com a função a qual o indivíduo deverá assumir. A base de conhecimento e o conhecimento dos processos empresariais serão de suma importância para que tais indivíduos possam melhorar o desempenho global da empresa, seja através da melhoria ou inovação de produtos/processos.
    A convergência destes focos resulta num modelo de gestão no qual o conhecimento é o principal elemento. No ambiente complexo em que as empresas se encontram, a gestão do conhecimento passa a ter um alto grau de subjetividade.
    Associá-la simplesmente à gestão de informação, ou de pessoas, ou de processos é reduzir o foco, limitar sua abrangência.
    É possível facilitar a criação, compartilhar, disseminar, recuperar e reter conhecimento das pessoas. Podemos começar a partir de uma mudança de foco. Muito se fala em desenvolver o mercado nacional e novos mercados internacionais. Por que não deixarmos de pensar em competição e pensar em "coopetição", em que a colaboração é fundamental?
    Um segundo passo é ter consciência que ferramentas de TIC, processos e pessoas devem convergir para que os resultados de mercado possam ser alcançados e as empresas e as pessoas aprendam, cresçam e se desenvolvam continuamente.
    O conhecimento sempre esteve presente no cotidiano das empresas, porém disperso, não organizado, não estruturado e predominantemente sob o domínio das pessoas.
    Trabalhar as pessoas e as informações, conhecimento - tanto na esfera individual, quanto na organizacional - é um desafio para criar, desenvolver e sustentar vantagem nos mercados.
    Definir os agentes que farão parte da condução do processo de mudança para a gestão do conhecimento deve ser um primeiro passo para desenvolver uma nova abordagem em gestão empresarial em resposta ao aumento da complexidade dos mercados e dos negócios atuais.

(*) Fábio Câmara Araújo de Carvalho é sócio diretor da IBCon -
Inteligência em Negócios - professor da ESPM e Uni Sant´Anna
em São Paulo e sócio fundador da Sociedade Brasileira de
Gestão do Conhecimento (SBGC).